Offline por cinco dias

Tudo começou nas redes sociais. Descontentes com mais de três décadas de governo do presidente egípcio, Hosni Mubarak, milhares de egípcios decidiram se organizar para sair às ruas pedindo o fim do regime. Aterrorizado com o poder de mobilização de redes sociais, como o Twitter e o Facebook, Mubarak não teve dúvida: isolou o Egito do mundo ao desconectar o país inteiro da internet.

Na manhã do dia 28, o país amanheceu “no escuro” – pelo menos 93% das redes egípcias estavam fora do ar, deixando 23 milhões de usuários sem acesso à internet. Os servidores locais caíram quase simultaneamente. O único que sobreviveu ao blecaute foi, curiosamente, o responsável por manter online o sistema da bolsa de valores egípcia.

O bloqueio durou cinco dias – na quarta-feira pela manhã, o acesso à internet começou a ser restabelecido –, mas foi suficiente para enfurecer ainda mais os manifestantes.

Gasolina na fogueira. “O que o governo do Egito não percebeu é que mesmo se você ‘desligar’ a internet, tirar do ar as emissoras de TV e até mesmo suspender a circulação de jornais, o povo ainda vai encontrar uma maneira de se comunicar”, afirmou, por telefone, ao Link, o analista político americano Mark Curtis, que estuda o impacto das redes sociais na sociedade atual. “O custo político de deixar um país inteiro offline, porém, é imenso. Seria algo como jogar gasolina em uma fogueira – só aumenta ainda mais a revolta e a desconfiança popular.”

O corte das redes no Egito foi algo sem precedentes na história da internet, segundo analistas. A única repressão semelhante à do Egito ocorreu em setembro de 2007 em Mianmar, quando o governo conseguiu bloquear os servidores do país. No entanto, o acesso à internet em Mianmar é consideravelmente mais limitado e controlado do que no Egito.

Craig Labovitz, da Arbor Networks, empresa que monitora o tráfego online no mundo, acredita que algo semelhante dificilmente poderia ocorrer em países como os Estados Unidos ou o Brasil. “Os EUA têm uma rede de telecomunicações muito maior e mais diversa do que a do Egito, então seria impensável bloquear o tráfego americano”, diz Labovitz em entrevista ao Link.

De acordo com o jornal The New York Times, pelo menos 40 países no mundo filtram sites ou serviços específicos na internet – assim como o governo da China proíbe o acesso a algumas fontes estrangeiras de notícias e, até mesmo, o Google.

“Foi como se tivéssemos voltado no tempo, para a década de 60, quando não tínhamos telefones celulares nem acesso à internet”, disse o analista egípcio Mohamed Elmenshawy, diretor do Programa de Estudos Regionais do Middle East Institute.

De acordo com ele, a internet tornou-se crucial no mundo árabe, fazendo da maioria dos setores da economia seus dependentes. “Hoje em dia é impossível uma economia moderna sobreviver sem a internet.”

Comportamento. Elmenshawy explica, porém, que, apesar de o comportamento dos usuários no Ocidente ser parecido com os hábitos online no mundo árabe, a internet é usada para fins distintos em países como o Egito ou a Tunísia, onde manifestantes que também organizaram protestos em redes sociais conseguiram, no mês passado, derrubar o ditador Zine El Abidine Ben Ali depois de 23 anos no poder.

“O fato de não termos uma liberdade real tanto na imprensa como na política faz que a população use mais a internet para expressar opiniões, já que não é possível fazer isto de maneira livre na sociedade”, diz Elmenshawy. “Então, o jeito mais eficaz de silenciar as críticas – e a oposição – é ‘fechar’ a internet.”

Para Mark Curtis, entretanto, a questão de bloquear ou não a internet é mais uma questão de diferenças entre gerações do que uma questão geográfica.

“Acho que as pessoas que são mais velhas – e isso inclui Mubarak que já tem mais de 80 anos – não conseguem compreender que a internet e as redes sociais são os meios usados pelos jovens para se comunicar hoje”, afirmou Curtis. “E ao não entender como essa comunicação funciona, eles subestimam o poder de movimentos políticos que nascem nesses ambientes, como o Twitter, e isso não é uma realidade apenas de países árabes, mas de outros países também.”

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Fax, rádio e código Morse
Sem internet, egípcios recorrem a antigos meios de comunicação

O bloqueio da internet no Egito fez que os internautas do país buscassem meios alternativos para se comunicar com o restante do mundo.
Para isso, uma série de blogs, grupos de ativistas e até mesmo o Google lançaram serviços para facilitar o acesso ao mundo online.

“Um aspecto interessante de toda essa situação no Egito é que alguns manifestantes conseguiram furar o bloqueio com tecnologias que já estão fora de uso”, disse o analista político americano Mark Curtis, em referência ao uso de máquinas de fax, aparelhos de rádio amador, modems discados e até código Morse pelos manifestantes.

“Seres humanos têm uma necessidade básica de se comunicar, então se você impedir a comunicação de uma maneira, eles acharão outra.”
Alguns blogs árabes disponibilizaram dicas de como usar conexão discada utilizando bluetooth, um telefone celular e um laptop. Militantes também chegaram a divulgar na internet um documento com 20 maneiras de contornar o bloqueio do governo egípcio à internet.

Tweet falado. O Google também lançou um serviço que permitia enviar mensagens ao Twitter por meio de uma ligação telefônica. Para postar uma mensagem no microblog, era necessário apenas deixar uma mensagem de voz, que era convertida automaticamente em arquivo de som encaminhado ao Twitter com o tag #egypt. / R. M.

Fonte e Direitos Autorais: Redação Link – Renata Miranda, 6 de fevereiro de 2011| 18h44.

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Sobre Junior Galvão - MVP

Profissional com vasta experiência na área de Tecnologia da Informação e soluções Microsoft. Mestre em Ciências Ambientes na linha de pesquisa em Geoprocessamento e Modelagem Matemática pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Pós-Graduado no Curso de Gestão e Engenharia de Processos para Desenvolvimento de Software com RUP na Faculdade FIAP – Faculdade de Informática e Administração Paulista de São Paulo. Graduado no Curso Superior em Gestão da Tecnologia de Sistemas de Informação pela Uninove – Campus São Roque. Formação MCDBA Microsoft, autor de artigos acadêmicos e profissionais postados em Revistas, Instituições de Ensino e WebSistes. Meu primeiro contato com tecnologia ocorreu em 1994 após meus pais comprarem nosso primeiro computador, ano em que as portas para este fantástico mundo se abriram. Neste mesmo ano, comecei o de Processamento de Dados, naquele momento a palavra TI não existia, na verdade a Tecnologia da Informação era conhecida como Computação ou Informática, foi assim que tudo começou e desde então não parei mais, continuando nesta longa estrada até hoje. Desde 2001 tenho atuado como Database Administrator – Administrador de Banco de Dados – SQL Server em tarefas de Administração, Gerenciamento, Migração de Servidores e Bancos de Dados, Estratégias de Backup/Restauração, Replicação, LogShipping, Implantação de ERPs que utilizam bancos SQL Server, Desenvolvimento de Funções, Stored Procedure, entre outros recursos. Desde 2008 exerço a função de Professor Universitário, para as disciplinas de Banco de Dados, Administração, Modelagem de Banco de Dados, Programação em Banco de Dados, Sistemas Operacionais, Análise e Projetos de Sistemas, entre outras. Experiência na Coordenação de Projetos de Alta Disponibilidade de Dados, utilizando Database Mirroring, Replicação Transacional e Merge, Log Shipping, etc. Trabalhei entre 2011 e 2017 como Administrador de Banco de Dados e Coordenador de TI no FIT – Instituto de Tecnologia da Flextronics, atualmente exerço a função de Professor Universitário na FATEC São Roque. CTO da Galvão Tecnologia, consultoria especializada em Gestão de TI, Administração de Servidores Windows Server, Bancos de Dados Microsoft SQL Server e Virtualização. Possuo titulação Oficial Microsoft MVP e reconhecimentos: MCC, MSTC, MIE e MTAC.